domingo, 27 de novembro de 2011

Se não fosse eu não seria



SE NÃO FOSSE...
... EU NÃO SERIA

Se não fosse a comunhão
De dois puros nordestinos
Se não fosse o grande amor
Convividos de meninos
Eu não era do Nordeste
De sangue cabra da peste
Foi assim nossos destinos.

Se não fosse minha mãe
Filha de um mamulengueiro
E se o meu pai não fosse
O neto de um coiteiro
Eu não seria o que sou
Mas Jesus abençoou
Sou Nordeste brasileiro.

E se a mãe de papai
Não fosse religiosa
Devota de Padim Ciço
De jeito maravilhosa
Eu não ia ter vertente
Mas Jesus como presente
Me deu arte gloriosa.

Se mamãe não fosse filha
De uma boa cozinheira
Artesã por dom divino
Desenhista bonequeira
Eu era um simples rapaz
Mas meu Deus quis me dá mais
Sou raiz bem verdadeira.

Se papai nãi fosse filho
Do cabôco seu Miguel
De sangue cangaceirista
Admirador de cordel
Eu era mais um menino
Perdido no meu destino
Nunca ia ser menestrel.

Se não fosse a educação
Que papai e mãe me deu
Se não fosse os meus irmãos
E tudo que aconteceu
Eu não tinha minha mulher
Meu filhinho e muita fé
Jesus não se arrependeu.

E se não fosse a cultura
De sangue bem popular
E se não fosse Cascudo
Nosso Mestre Potiguar
Eu não ia ser cultura
Mas Jesus me deu a cura
Pra o Nordeste eu encontrar.

E se não fosse a sanfona
De Luiz rei do baião
E se não fosse o xaxado
Sua voz o seu gibão
Eu não ia ser vaqueiro
De sangue bem forrozeiro
Como  Elino Julião.

E se não fosse o pipoco
Do rifle de Virgulino
E se não fosse o boneco
De barro de Vitalino
Eu não ia escrever
O Nordeste pra tu ver
Eu não ia ter ensino.

Se não fosse a poesia
Do Mestre de Assaré
O saudoso Patativa
Homem de amor e fé
Eu não ia ser poeta
Mas essa não era meta
De Jesus de Nazaré.

E se não fosse o pandeiro
De Jackson no coração
Se não fosse as melodias
Dos poetas da canção
Eu não ia ser cantor
Poeta compositor
Verso rima emoção.

Se não fosse a concertina
De Sivuca a entoar
Linda feira de mangaio
Despertando nosso olhar
Eu não ia ser sanfona
Maestra e minha dona
Do forró desse lugar.

Se não fosse a rezadeira
Se não fosse o violeiro
Se não fosse o simples gesto
De aguar um terreiro
Eu não era agradecido
Também não era sabido
Jamais ia ser vaqueiro.

Se não fosse o juazeiro
Cardeiro mandacaru
Manga caju e maxixe
O azedo do imbu
O amarelo da jaca
Ia virar a casaca
Do Nordeste para o Sul.

Se não fosse o tatu peba
Rolinha nambu preá
Se não fosse esses riachos
Pra eu correndo ir pescar
Eu não ia ser banhado
Mil vezes abençoado
Pela arte popular.

E se não fosse o São João
Com sua luz de fogueira
Se não fosse a cantoria
Poesia bem brejeira
Eu era analfabeto
Meu poema era incompleto
Não ia ser de primeira.

E se não fosse a morena
Cabôca do meu sertão
Se não fosse o seu cheirinho
Seu gostinho de paixão
Eu não era apaixonado
Ô coisa do meu agrado
Morena minha canção.

Se não fosse água de pote
Mode matar minha sede
Um cochilo bem tirado
Deitadinho numa rede
Eu ia dizer cadê
Mas eu digo pra você
Nordeste se diz é quêde.

Se não fosse meu inverno
Boa colheita de milho
Se não fosse os forrozeiros
Nordeste não tinha brilho
Eu não ia ser parente
DEUS me livre de repente
Do Nordeste não ser filho.

Se não fosse esses meus versos
Se não fosse a poesia
Se não fosse meu Nordeste
SE NÃO FOSSE, EU NÃO SERIA
Eu não ia decantar
Meu Nordeste Popular
Não ia ter alegria.

Poeta Jadson Lima

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