domingo, 8 de abril de 2012

Me vinguei de Nazaré




Me vinguei de Nazaré

Foi numa semana santa
Que eu combinei meu patrão
Pra mode fazer um Judas
Eu meu primo e meu irmão
Foi um causo de lascar
Que agora eu vou contar
Pra mode vocês saber
Foi um negocio engraçado
Que me deixou preocupado
Mas depois digo por que.

Pegamo a montar o Judas
Cabeça braço pescoço
Juntamo graveto vara
Pra mode servir de osso
Pro bicho ficar em pé
Até dona Nazaré
Ficou mangando da gente
Perguntando se era eu
Ou algum amigo meu
Aquele Judas indecente.

E eu olhando pra ela
Em tempo de enfartar
Meu irmão e o meu primo
Começaram a me acalmar
Logo eu tive uma ideia
Vou matar aquela veia
E o medo vai ser voraz
Quando o Judas eu terminar
De noite vou pendurar
Na sua porta de traz.

Quando foi umas seis horas
O Judas eu terminei
Fiquei pastorando a veia
Minha ideia eu comecei
Pra missa ela tinha ido
E eu entrei escondido
Por detrás na casa dela
Hoje tu vai me pagar
Nunca mais tu vai chamar
Ninguém de Judas amarela.

Umas dez horas da noite
A missa tinha acabado
Nazaré vinha descendo
A ladeira do mercado
De longe eu avistei
E ligeiro me atrepei
Num pé de seriguela
Eu amarrei direitinho
O Judas bem empezinho
La atrás na porta dela.

Ela entrou e eu olhando
Aquela papagaiada
Torcendo pra ela abrir
Mode eu ver a presepada
E ela as luz ascendeu
Sentou na mesa comeu
E eu atento esperando
Quando vi a porta abriu
O Judas nela caiu
E ela correu gritando.

Valei-me Nossa Senhora
São Bento São Rafael
O satanás me pegou
Valei-me meu São Miguel
O bicho é feio demais
Na minha porta de trás
Me esperava aquele cão
Quando eu abri de repente
Como uma feroz serpente
Me pegou de supetão.

Porta mesa tamborete
Nos peito ela foi levando
Saiu feito um preá
Numa vareda pulando
Correu mais de uma hora
Saiu de estrada afora
Constantemente a correr
Correu de cabeça abaixo
Foi parar lá no riacho
Pensando que ia morrer.

Do pé de seriguela
Eu desci ligeiramente
Meti as pernas pra casa
E cheguei rapidamente
Mamãe tava na cozinha
Tratando duma galinha
Papai já tava deitado
Mas titia fofoqueira
Veio e caiu na besteira
De falar o resultado.

Quando acabou o furdunço
Descobriram que foi eu
Papai me deu uma pisa
Mãe deu outra pisa neu
De infeliz baderneiro
De molecote fuleiro
A velhota me chamava
Passou seis messes doente
Por causa do meu parente
O Judas que ela chamava.


Poeta Jadson Lima

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